30 dezembro, 2013

O mundo de Sofia

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Caramba! Dezesseis anos já se passaram desde que eu li este. 

Eu estava fazendo meu intercâmbio, e um dia, num aeroporto qualquer, comprei o livro para ler durante o vôos em um dos passeios que fiz na Austrália. Não me recordo para onde exatamente estava indo, mas a viagem demorou pouco menos de duas horas, tempo que foi totalmente insuficiente: não cheguei nem na metade.

O livro é grande, e eu o li em inglês, o que certamente me ajudou a conhecer melhor a língua.

Conta sobre uma garota que, com 15 anos (apenas dois anos a menos que eu na época que li), começa a receber bilhetes anônimos pela caixa do correio. E em casa bilhete que ela recebe a gente é levado a conhecer um pouco sobre toda a história da filosofia ocidental. A linguagem é super acessível, e eu acho que a leitura deveria ser obrigatória nas escolas. É triste como as pessoas de hoje em dia (e eu me incluo nelas) são ignorantes nesse assunto, e mais triste ainda como esse conhecimento poderia efetivamente mudar algumas coisas rotuladas de normais atualmente.

Rolam várias questões existenciais, e isso me encantou bastante quando li. Sou bem do tipo de pessoa que adora questionar e ir fundo no questionamento. Comportamento, influências, valores, conhecimentos, heranças culturais, tudo isso dá pra extrair daí.

Lembro-me de que quando terminei de ler pensei que este era talvez o primeiro livro "importante" que eu havia lido. Um livro que não era didático, mas ensinava as coisas. Que era educativo e não era chato. Achei bem interessante isso mesmo, e só agora me dei conta que acabei fazendo algo parecido com os livros que escrevi... Lúdico e técnico juntos: a combinação perfeita.

Da minha experiência no intercâmbio, muitas coisas ainda são nítidas e fortes. Foi nessa época que eu aprendi, de verdade, o significado da palavra saudade, e entendi o quanto ela é dífícil de ser explicada. Eu costumava ficar horas olhando pra lua. E fazia isso porque sabia que do outro lado do mundo, poderia ter alguém que eu gostava muito e de quem sentia muita falta olhando para a mesma lua. De certa forma, me sentia ligada às pessoas que eu amava (que são, na grande maioria, as que eu ainda amo). Ligadas pela lua.

E depois que comprei o livro, ele passou a ser, ao lado da lua, minha companhia. Sentava-me no gramado do lago que tinha bem em frente à casa em que eu morava, e aproveitava a leitura lenta e recheada de um monte de palavras que eu ainda não conhecia o significado. Era um exercício de aprender inglês e espantar a monotonia.

Não gosto de ler o mesmo livro mais de uma vez, mas este é um que eu definitivamente preciso reler. Em português, e sem olhos cheios de lágrimas.

Qualificação: 5 estrelas
Nível de recomendação: corra agora comprar um e comece a ler ainda hoje.


23 dezembro, 2013

Garota exemplar

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Desde que eu terminei de ler este, eu tinha certeza absoluta que precisaria escrever sobre. E nem tinha pensado em começar esse blog ainda. Mais um daqueles livros que mexe comigo porque parece que alguém está de camarote assistindo um pedacinho da minha vida e resolve, como quem não quer nada, contá-lo num canto coadjuvante de um livro.

Estranho. Bem estranho.Mas o mais estranho é conhecer gente que é exatamente igual ao casal de personagens principais deste livro. Estranho e insano.

Eu já tinha visto esse livro nas prateleiras muitas vezes antes de comprá-lo, mas não sabia do que se tratava. Aliás, raramente leio as sinopses dos livros. Gosto da surpresa, e compro os livros pela capa. Essa capa, confesso, não tinha me chamado muito a atenção, então vários outros passaram na frente dele. Mas teve um dia que não consegui mais fugir.

É um casal feliz, até que, por problemas com a família dele, os dois precisam se mudar de Nova York para um fim de mundo qualquer. E, de repente, a moça some. Desaparece. E ninguém sabe o que aconteceu com ela., mas todos sabem que muitas pistas começam a indicar que ele "desapareceu" com ela.

A tal moça tem pensamentos que se parecem bastante com os meus. Ela fala da rotina imbecil em que alguns casais se permitem viver. Da futilidade das brigas por ciúme. Dos questionamentos irritantes da sociedade sobre ter filhos ou arrumar um marido. Das aparências sem sentido que muitos tentam manter. Estes continuam sendo os meus pensamentos, mas os dela...

O cara é um típico marido insatisfeito e acomodado. Tem uma amante, e embora prometa à ela que vai largar a mulher, nunca teve realmente a intenção de fazer isso. É fácil enganar uma amante apaixonada.

O livro é narrado pelo marido, mas surpreende quando a narrativa passa a ser da esposa desaparecida.

Embora pareça, não é um livro policial. Na verdade, ele mostra até onde uma pessoa é capaz de ir para conseguir o que quer.

Como já relatei por aqui, eu tive uma experiência de vida muito ruim. Faz pouco mais de um ano. Mas o conceito de recente fica bem relativo quando você simplesmente não consegue tirar um fato de dentro de você. Pode se passar uma década, e sempre vai parecer que foi ontem. E sempre vai doer como se tivesse sido ontem.

Com os dias se passando, fica ainda mais difícil entender certas coisas, como a ligação que as pessoas tem entre si. A ligação doentia que as pessoas tem e fazem questão de manter entre si. Fazem questão mesmo, independente de tudo. Você desperdiçaria a sua vida inteira simplesmente por não querer que outra pessoa saia do seu lado?

Particularmente, para mim é o maior absurdo do mundo você viver com alguém por simples capricho. Por comidade. Por status. Por preguiça de um novo começo. Por irresponsabilidade. Por fraqueza. Por covardia. Por egoísmo.

Acho um absurdo também viver uma vida que não existe. Mostrar para os outros aquilo que não se vive. Fingir que está tudo bem. Deixar o tempo passar e se manter numa situação não saudável. Sobreviver num inferno apenas por não saber enfrentar o medo do julgamento que as pessoas farão.

O livro é bastante surpreendente e prende a atenção. A forma como o autor expressa as coisas por palavras é fantástica. Gostei muito.


É um livro que eu gostaria demais de dar de presente a um casal. O casal que vive exatamente tudo que é retratado no livro... Talvez, lendo a história deles contada por outra pessoa, eles veriam a idiotice que estão fazendo de suas vidas. Mas não vou fazer isso. Ou vou... Quem sabe, né? Soube que o filme vai ser lançado em breve. Talvez eu indique o filme a eles.

Qualificação: 4 estrelas
Nível de recomendação: o bom sendo me impede de citar nomes, mas eu indico muito mega master para duas pessoas queridas (ou não tão queridas assim).

13 dezembro, 2013

O caçador de pipas

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Eu sou uma pessoa assumidamente chorona. Choro muito e choro mesmo. Gosto, até. Chorar é a maneira que a alma tem de se lavar. 

Mas raramente choro com os livros que leio. A tristeza que eu absorvo de livros tristes eu, não sei porquê, transformo em um sem fim de reflexões. Fecho o livro e simplesmente me deixo deitada, olhando para o teto, e pensando. Este livro foi exatamente assim. 

Achei o livro absurdamente triste. Do tipo "como é possível tanta desgraça na vida de uma só pessoa?" E amei. Porque amo coisas tristes. Mas, acima de tudo, esse livro me fez pensar bastante em muitas coisas. E ainda hoje, ainda penso. 

Sou assim mesmo: me perco nos meus próprios pensamentos, porque eles têm vida própria. 

A edição que eu li foi uma especial, muito bonita, com ilustrações bem bacanas. Essa aí da figura. Mas as ilustrações não deixaram a história alegre. 

Lição: ainda que todo mundo diga aquela coisa de que águas passadas não movem moinhos, o passado nunca morre. Por mais que você se esconda dele, ele te encontra. E te cobra. e te atormenta. E te causa dor de estômago e insônia. Por mais fundo que você o enterre, ele sempre consegue sair. 

Não me lembro ao certo quando foi que eu li este. São dois amigos, com vidas e características bastante opostas: um, de família bem sucedida financeiramente é cheio de defeitos; o outro, humilde, cheio de qualidades. É um livro longo, mas muito delícia de ler, e cuida, basicamente, de mostrar o tanto de sentimentos que a gente pode abstrair da amizade. 

Lição: a sinceridade nem sempre é uma virtude. Acho que sinceridade e ingenuidade andam bem juntas, e isso faz do sincero uma pessoa sofrida. Porque temos a tendência de acreditar que somos normais, e que as pessoas normais também agem como nós. Mas elas nunca agem. E é bem aí que nos machucamos. 

Num determinado episódio, o menino rico tem a chance de mostrar para o menino pobre que ele também pode ter todas aquelas qualidades que ele vê no outro. Mas não o faz. E se deixa vencer e dominar pelo medo, pela vergonha, pela falta de atitude com a qual sempre levou a sua vida. 

Uma cena muito difícil, que está bem retratada na minha memória, da maneira como eu pintei as cores do livro. E eu não quero ver essa cena num filme dirigido por pessoas que eu não conheço. Prefiro manter as coisas como eu vi. 

Lição: um momento pode mudar para sempre toda uma vida. E até mais que uma. E existe uma expressãozinha maldita que sempre nos atormenta: "e se?". Tudo que fazemos o que não fazemos traz consigo um e se. E se não tivéssemos feito? E se tivéssemos feito? Muita coisa, com certeza, seria diferente. Mas na maioria das vezes, não se pode mudar o momento que já passou. 

O livro tem a guerra do Afeganistão como cenário, mas não é uma história de guerra. Eu, particularmente, não gosto muito de histórias de guerra, mas pode ser porque eu não tenha lido nenhuma realmente boa até agora. 

Lição: redenção. Do dicionário: ato ou efeito de redimir; salvação; resgate; libertação. Bom... eu acredito bastante em tudo isso. Lei do retorno. Então, gostei bastante do livro.

Qualificação: 5 estrelas
Nível de recomendação: se você gosta de histórias tristes, pegue uma caixa de lenços e se joga nesse livro.

12 dezembro, 2013

Até as princesas soltam pum

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Já falei que eu tenho uma filha, né? Devo ter falado. Eu sempre falo. Eu considero isso como uma qualidade minha. "Eu sou legal, simpática, inteligente, e tenho uma filha." Ela é a melhor parte de mim.

Exatamente como pensa toda mãe, a minha filha é a mais linda do mundo, a mais esperta do mundo, a mais tudo do mundo. Uma linda.

Adoro o fato de ela adorar livros. É uma das coisas que eu passei para ela sem perceber. Eu apenas li e ela descobriu, sozinha, que ler é tudo de bom. Temos um acordo de que, se ela mantiver os livros delas todos em ordem, e não perder nenhum, ela ganha um novo por semana. 

Compramos este dias atrás. 

Era um domingo, e, ao invés de deixamos a preguiça fazer companhia o dia todo (a gente costuma fazer isso aos domingos...), resolvemos sairara passear um pouco. Andamos de metrô, caminhamos pela Av. Paulista, tomamos sorvete e finalizamos nosso passeio na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, uma das minhas livrarias preferidas. O preço lá não é dos melhores, mas o ambiente é uma delícia.

Acho um barato o fato de que quando ela chega lá, já vai sozinha para a sessão de livros infantis, toda confiante e segura, subindo as escadas como se fosse uma mini adulta que definitivamente sabe o que quer. Ela sabe sim. Sempre sabe.

Como de costume, pegou alguns volumes e sentou nas almofadas que ficam embaixo do grande dinossauro de madeira para pensar qual era o que mais a agradava. No fim das contas, ela acabou ficando com este, que nem estava entre os primeiros pré-selecionados.

Livros se vendem pelo título. Até eu compraria esse, sem nem mesmo ler sinopse ou, no caso, os desenhos dentro dele. E, para uma criança, qualquer coisa que venha ligado a xixi-cocô-pum é engraçado. O livro é uma graça e vem com um QRCode para o áudio, o que eu, mãe, achei o máximo, porque nem sempre estou disponível para ler para ela quando ela fica com preguiça de ler sozinha. 

Obviamente, eu comprei um para mim também. Impossível entrar numa livraria e não comprar um livro... Ou dois. Falo deles em outra postagem.

Voltamos para casa no fim da tarde, deitamos, as duas, na cama do meu quarto, e ficamos, de bruço, balançando as pernas para o alto, somente ao som do ventilador e do virar das páginas, as vezes rindo, as vezes preocupadas, e lendo. Cena digna de foto. 

Para crianças que estão começando a ler ou para aquelas que ainda não sabem, o enredo leve e divertido.É uma ótima pedida.

Qualificação do livro: 5 estrelas
Nível de fofura: achei este livro muito engraçadinho, mãe!


06 dezembro, 2013

A menina que roubava livros

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Faz bastante tempo que eu li esse. Sinceramente, não me recordo com detalhes, e não sou de ler livros duas vezes (porque sempre tenho outros novos para ler, e, não gosto de frases feitas, mas a vida é curta demais para ler duas vezes o mesmo livro). Também sou do tipo de gente que se recusa a ver o filme quando existe o livro, portanto, não vou ao cinema assistir esse.

Gosto da lembrança boa que tenho deste livro. Foi, sem dúvida, um daqueles livros que a gente começa a ler e não quer parar nunca, e dá medo quando ele está acabando, porque é tão bom que talvez o próximo se torne uma decepção.

Ironicamente, eu "roubei" este livro do meu pai. Simplesmente peguei das coisas dele um dia, levei para a minha casa, e só devolvi muito tempo depois. Definitivamente, preciso comprar um exemplar para mim. É um livro cuja ausência na estante diz muito sobre a vida de leitor de uma pessoa.

Eu me lembro das frases. Muitas delas me marcaram muito.

O ser humano não tem um coração como o meu. O coração humano é uma linha, ao passo que o meu é um círculo, e tenho a capacidade interminável de estar no lugar certo na hora certa. A consequência disso é que estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua feiúra e sua beleza, e me pergunto como uma mesma coisa pode ser as duas. Mas eles tem uma coisa que eu invejo. Que mais não seja, os humanos têm o bom senso de morrer.

O primeiro livro, a menina rouba do coveiro que enterrou seu irmão. E logo depois de assistir à morte do irmão, a menina é deixada com uma família adotiva. A história, que envolve nazismo, judeus, fuga, é contada pela morte. Morte, com letra maiúscula, eu acho. A Morte.

Depois ela passa a roubar vários outros, e faz disso a sua profissão e o seu propósito de vida. Tira lições deles, e aplica à sua própria vida. E a Morte continua a observá-la e contar a sua história.

Lembro-me que a nova mãe era uma velha chata, o pai era um pintor, e tinha um amigo. Um melhor amigo, que ela gostaria que fosse seu namorado, mas nunca foi. Tem a tristeza e frieza de uma Alemanha em plena guerra, e o olhar de uma menina sobre tudo isso.

Não me façam feliz. Por favor, não me saciem nem me deixem pensar que alguma coisa boa pode sair disso. Olhem para meus machucados. Olhem para este arranhão. Estão vendo o arranhão dentro de mim? Estão vendo ele crescer bem diante dos seus olhos, me corroendo? Não quero ter esperança de mais nada.

Essa é uma das partes que não me esqueço. Tão eu... 

Adoro livros onde encontro coisas que eu mesma gostaria de ter escrito. É como se alguém, em algum canto, entendesse exatamente o que eu penso e sinto sobre alguma coisa, e que eu mesma ainda não consegui expressar em palavras. Eles expressam. E quando eu leio, penso: "era isso!"

Estranhamente, sempre achei que as pessoas "normais" não têm um coração como o meu. Já ouvi me falarem, mais de uma vez que eu sou especial. Acho que é isso que querem dizer: que eu sou diferente. E confesso que até agora, não vi muita coisa de legal em ser assim especial. Eu sou muito. Eu penso muito. Eu sinto muito. E, como não poderia deixar de ser, eu sofro muito.

Então, quando começa a ficar tudo tão legal, eu imploro. Por favor, não. Não me faça. Não me tente. Não me acredite. Não me sorria. Mesmo assim, quase ninguém me escuta ou atende. E fazem. E eu volto a acreditar em quase tudo que já não acreditava mais, para, daqui a pouco, perder de novo a crença. 

Uma definição não encontrada no dicionário
Não ir embora: Ato de confiança e amor, comumente decifrado pelas crianças

E mesmo depois de tanto tempo após ler este livro, me deparo, hoje, com este trecho. Porque eu decifrei o não ir embora, mas não era eu que tinha que ficar. Eu fique, ele não, eu chorei.

Eu continuo. Como a menina. Ou como a Morte. Depende do ponto de vista.

Queria roubar livros também. Todos. E me esconder num porão onde alguém pudesse fazer pinturas que eu não entendo, e observar a arte enquanto leio. Mas por hora, a guerra acabou. E ainda tenho muito outros livros para ler.


Qualificação do livro: 5 estrelas
Nível de recomendação: não espere ter tempo livre para ler este. Vale a pena ler sem tempo mesmo.




 

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