25 março, 2014

O ladrão de cadáveres

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Um dos riscos de se comprar livros pela capa é exatamente o livro ser ruim. Este foi.

Eu adorei a capinha dele. Gostei do fato de ele ter um formato pequeno, gostei da frasezinha que tem na capa (Fascinante. Perfeito e perturbador), mas agora me pergunto: quem será que escreve isso? Será que essas frases são realmente escritas por alguém? Ou o autor paga um pouco a mais para a editora colocar uma frase qualquer na capa?

Comigo, a tática funcionou.

Eu não sei muito bem se eu não entendi a história ou se o livro é ruim mesmo. 

Não me lembro quanto paguei nele (na verdade eu nunca sei o preço dos livros que eu compro: eu simplesmente compro), mas me lembro de tê-lo adquirido na Livraria da Villa do Shopping JK. Pelo menos o passeio até lá valeu: a livraria é linda, e o shopping também (embora eu não tenha condições financeiras de consumir em quase nenhuma outra loja a não ser a livraria...). E me lembro também de ter comprado um livrinho para a minha filha, que ela adora até hoje.

A história é de um rapaz que vai aprender anatomia com um médico muito influente importante, se apaixona por uma prostituta, e se torna um ladrão de cadáveres. Fim.

Nada mais que valha o registro (na minha humilde opinião). A narrativa é em primeira pessoa e parece ser também sempre em primeira marcha. Não anda, não muda, não acontece nada em tempo nenhum e nem em lugar nenhum. 

O que eu sei é que eu estava me torturando porque este livro ficou semanas e semanas lá, sem que eu terminasse de lê-lo. Começava outro, e terminava rapidinho, mas depois me via no dever de retomar este. Ele me olhava como se dissesse, com olhar de pedinte: por favor, termine-me!

Bom... acabou hoje, num horário de almoço meio ensolarado do início do outono. Eu já tinha perdido a esperança de o final ser emocionante ou surpreendente faz tempo, então apenas me sentei num banco e cumpri meu dever. Já pode ir para a prateleira e dar o lugar para outro.

Não tenho nada para falar sobre ele, e isso é triste. E até que gostaria (como sempre gosto) de fazer links de qualquer passagem do livro com alguma coisa na minha vida ou na vida de alguém que eu conheço, mas, definitivamente não tenho no meu círculo de amizades pessoas que desenterram corpos para vender e nem muito menos que matam outros para vender os corpos. 

Então, é isso. Post frustrado.

Qualificação: 1 estrela (porque acho que não existe a qualificação zero estrelas...)
Nível de recomendação: nível negativo

21 março, 2014

Meu nome é Luciana, e eu estou limpa há 5 dias

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Cinco dias. Era um período muito bom e eu precisava mantê-lo. Aumentá-lo. Precisava.

Na última livraria que eu fui, acabei comprando dois livros. Não resisti. Eu sei que eu não precisava deles, porque tenho exatamente 21 livros novinhos em casa para ler, sem contar os dois que estou lendo. Mas foi mais forte do que eu.

Nos dias seguintes, não pensei no assunto.

Hoje, contudo, eu precisava comprar presentes para as crianças que fazem aniversário amanhã. E tem presentes para crianças na livraria aqui perto. Resolvi testar minha força.

Caminhei tranquilamente até lá, mas quando coloquei o primeiro pé no interior do estabelecimento, eu senti aquele cheiro. O cheiro de livro novo. E todas aquelas capas coloridas me olharam nos olhos. Senti as pernas bambearem, e me deixei abraçar pelo cheiro... Tive medo. Eu confesso, sou fraca mesmo. 

Diminuí a velocidade dos passo, quase cedendo já de cara. 

Mas, por sorte, uma pessoa distraída acabou trombando em mim. Eu acordei, esfreguei os olhos, fixei o olhar na escada e andei. Fingi que não ouvi a voz dos lançamentos, dos mais vendidos, de todos eles. No fundo, eu estava me corroendo por dentro. As mãos suavam e a respiração estava forte.

Eu não preciso de mais livros. Eu não preciso de mais livros.

Consegui alcançar a escada. Um, dois, dez, vinte degraus. Basta não olhar para os lados. Apenas continue caminhando.

A sessão infantil era minha salvação. Ali eu poderia respirar. Mais alguns passos e ficaria tudo bem.

Ficou.

Encontrei os dois livrinhos ideias para cada um dos menininhos. Mas ainda precisava voltar. Eu já tinha passado por metade do processo, e estava indo bem. Embora entorpecida e com o estômago embrulhado, eu estava indo bem. Orgulho de mim.

É só ir até o caixa. Não olhe para os lados. 

Vinte, dezenove, dezoito. Degraus em contagem regressiva. Eu me aproximava do território mais perigoso. É na parte de baixo que eles colocam os livros mais interessantes bem na nossa cara, como iscas. E eu sou o peixe. O peixe idiota que sempre morde o anzol. Acho que sou ferro, e eles são imã. É difícil. Verdadeiramente difícil.

Senhora? Débito ou crédito?

Acho que apaguei por alguns instantes. E fiquei desesperada! O que eu estava pagando? Será que o meu vício tinha, então, atingido o grau de me tirar do estado consciente? Foram alguns segundos, mas para mim parecia uma vida. Se eu olhasse para as mãos da operadora de caixa e visse que ela estava colocando na sacola não apenas os dois livros infantis que eu comprei, seria a minha derrota total. Definitivamente, eu iria sair dali e procurar ajuda profissional.

Crédito.

Respondi trêmula. Ainda que eu não olhasse para as mãos dela, eu teria que ver o valor que estava pagando, e farias as deduções. Era o fim. Quis morrer.

Mas, novamente, ficou tudo certo. Eu sorri para a moça e acho que ela não entendeu nada. Ou talvez tenha pensado que eu estava flertando com ela, ou tão carente que queria fazer amizade. Mas não era nada disso. E no fim das contas, ela me odiou por não ser nada disso. E me disse que para embrulhar para presente eu teria que atravessar a livraria toda, porque o setor de pacotes ficava na saída do outro lado.

Quis matá-la.

Peguei a nota fiscal, e olhei para o longo caminho que precisava percorrer. 

Virei as costas e fui embora. Eu posso embrulhar os livros em casa. Não é justo comigo. Tinha ido bem demais para estragar tudo por conta de um papel de presente.

Na rua, respirei, mas, em silêncio, deixei escorrer uma lagriminha.

Eu podia estar agora com um livro novo. Ainda que ele fosse o vigésimo segundo da fila dos que eu ainda tenho para ler.

18 março, 2014

Limiar

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Mesmo os últimos dias tendo sido extremamente cheios de trabalho, esse eu li em 5 dias. Mais rápido do que achei que leria. É um livro leve, de leitura fácil, não muito profundo, exatamente o que eu estava precisando depois de ler o Garotas de Vidro

Aquele livro me deixava realmente deprimida... Todas as vezes que ia para o parque e levava aquele livro comigo, era como se estivesse carregando um saco de concreto dentro da bolsa.

Esse foi bem diferente: ele tinha o peso de uma pena. A escrita é quase infantil (não no sentido pejorativo, mas na simplicidade das palavras e frases). Senti falta de metáforas, porque as adoro. Mas realmente foi um bom calmante depois da tormenta.

É narrado por uma garota de 18 anos, morta. É: a menina morta é a personagem principal do livro e a narradora. Não é spoiler: ela morre logo no primeiro capítulo, logo nas primeiras páginas. A história toda é contada por ela depois que ela morreu. Mas não tem absolutamente nada a ver com religião, e convicções espirituais, e essas coisas.

Eu, particularmente, acredito em vida depois da morte, e que as coisas pendentes precisam ser resolvidas, e que a gente tem em vida várias chances de resolver problemas que carregamos por muito tempo, e que na grande maioria das vezes falhamos em resolver esses problemas, o que faz com que tenhamos que voltar, de novo e de novo, para continuar tentando resolver. Acho, ainda, que um dia a gente aprende. Mas quando aprende, sempre tem outra coisa, depois, para aprender também. 

Então para mim acho que a história do livro fez muito mais sentido do que faria para quem não tem essas crenças. De toda forma, é um livro legalzinho porque faz a gente refletir sobre o nosso modo de agir com as pessoas.

A moça morre, e fica "presa" em algum lugar (que não é nem o céu e nem a Terra) até que consiga descobrir como exatamente ela morreu, e porquê. Ela consegue observar as pessoas vivas e consegue, também, voltar ao próprio passado para, como espectadora, ver como vivia. Ela não se lembra de muitas coisas, então essas "viagens" ao passado a ajudam a montar o quebra-cabeças da sua história de vida e morte.

Moral da história: por vezes, somos muito ruins com os outros, e nem sequer nos damos conta disso. 

Como não poderia deixar de ser, relacionei tudo isso a um aspecto da minha vida: eu não perdoei. Tenho plena consciência de que algumas coisas na minha vida continuam dando errado porque eu não me desapeguei totalmente de algo/alguém que realmente me fez mal. Sinto que esta situação/pessoa precisa ficar ligada à mim porque me deve isso, depois de todo o mal que me fez passar. Egoísmo sim. Mas não posso evitar, confesso.

Sim, eu sei que é errado. Sim, eu sei que preciso deixar ir. Sim, eu sei que só depende de mim. Sim, eu sei muitas coisas.

Mas a teoria é mais fácil do que a prática, e certos machucados ficam sangrando por muito tempo  (para sempre?) apenas para nos lembrar que estão lá, e para nos impedir de correr o mesmo risco outra vez.

Se me faz mal? Sim. Muito. Só que ainda não consegui trabalhar essa parte em mim. Acho que se eu morresse hoje, ficaria como a moça do livro, vagando por aqui, procurando peças do meu quebra-cabeças, cuja imagem final eu não faço ideia de qual seria. 

Preciso melhorar. Talvez eu consiga. Ou talvez eu leve para a próxima vida. Por enquanto, continuo lendo.

Qualificação: 3 ou 2 estrelas, a depende das convicções do leitor
Nível de recomendação: faz pensar.


13 março, 2014

Garotas de vidro

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Esse foi um livro bem difícil de ler. Estranho.

A leitura é uma delícia. Adorei a forma como a autora se expressa. Adorei o realismo na expressão dos sentimentos e pensamentos e sensações da personagem principal. É uma garota com sérios problemas, mas que pensa tanto quanto eu. Ela pensa em tudo. Vê as coisas e pensa sobre elas. Transofrma tudo em metáforas e isso quase que um super eu.

Expressões lindas. A fumaça do vapor no banheiro faz o vidro chorar. Coisas mais deliciosa de ler.

Mas o conteúdo é bem pesado. E sério. Realmente sério.

Trata de pessoas com distúrbios alimentares. Eu nunca conheci ninguém que tivesse esse tipo de problemas, mas sei que são bastante sérios. O problema é que, mesmo a gente sabendo que é sério e real e etc., a gente nunca realmente sabe até que conviva com aquilo. Eu me senti um pouco mais próxima desse problema com este livro.

Não acho que seja indicado para pessoas que realmente sofrem com esses problemas. Mas talvez seja sim muito indicado para quem conviva com quem sofre deles. Saber como lidar, como identificar sinais, como tentar entender o que passa na mente dessas pessoas.

Foi um livro que comprei numa promoção. eu nem sabia do que se tratava e nem nunca tinha ouvido falar a respeito. Não li a sinopse. E quando comecei a ler, gostei bastante, exatamente por conta do estilo da escrita (como eu já comentei antes). Depois, se tornou um livro muito pesado, e eu queria parar de ler, mas não conseguia. Nas minhas horas de almoço no parque, levava o livro, e lia só duas ou três páginas, porque elas me davam enjôo. E ao mesmo tempo, me davam vontade de ler mais.
Ele ficava pesado dentro da minha bolsa, e eu não queria mais carregá-lo. Mas sabia que não ia conseguir tirar ele de lá até terminar de ler.

Foi estranho. 

Achei o final um pouco decepcionante. Meio rápido demais. Não é legal você escrever um livro de duzentas e tantas páginas, e acabar com ele em menos de duas. Enfim, só a minha opinião.

De toda forma, foi uma leitura que acrescentou.

Qualificação:  3 estrelas
Nível de recomendação: aprecie com moderação; verifique a classificação indicativa; venda sob prescrição médica.


08 fevereiro, 2014

De esperança e de promessa

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Ler um livro nunca é uma decepção. Mas é fato que ao acabar este, não senti aquela vontade de ficar olhando pro teto e pensando em mil coisas que sinto em geral. Não digo que não gostei desse. Por outro lado, também não daria de presente para ninguém.

Começa com uma moça super apaixonada e nervosa por estar vivendo a véspera do seu casamento. Vestido, maquiagem, cabeleireiro. E ela fica toda linda. Vai para o local da cerimônia, e, que legal, o noivo decide não ir. Manda em seu lugar o padrinho para dar o aviso que não se sente preparado para casar. Isso tudo no primeiro capítulo.

Aí o livro vai, até o fim, enrolando e contando como a tal moça leva sua vida após esse dia.  Nada de mais. 

Não chega a ser chato, porque a leitura é agradável. Eu o li em poucos dias, no meio de uma semana extremamente conturbada. Uma semana resumida em números: foram 3.212 páginas lidas, escritas ou revisadas, 1 emprego instável, 3 brigas de arrancar lágrimas dos olhos, 5 noites com menos de 2 horas de sono cada, 1 cliente chato, 1 trabalho entregue, 1 coração partido e 1 me deixa em paz. Declarei a semana encerrada e o livro definitivamente não me acrescentou nada.

E quanto à mim? Bom... sempre tem eu nos livros que eu leio. 

Eu não fui deixada, com um lindo vestido de noiva, na porta do altar. Mas pode-se dizer que vivi algo parecido. Eu tive um relacionamento com o cara que eu achei que era o grande amor da minha vida. Programamos tudo. Cuidamos de tudo. E então, ele deixou a vida dele e veio para a minha. 

Ficou cinco dias. E foi embora.

Desculpa. Não estou preparado.

Eu achei que ia morrer. E tive vontade de matá-lo. E senti vergonha. E não queria sair da minha casa. E senti ódio. E continuei sentindo aquele amor insuportável que eu sentia por ele. Por dias. Muitos dias. Aquelas lembranças malditas me assombrando. Aqueles planos sendo desfeitos, um a um. A comida que era a que ele gostava. O parque que era o que tínhamos ido. A música, o cheio, a roupa, o ar. Tudo. Absolutamente tudo me fazia pensar nele. E me fazia chorar. E eu odiei ter chorado tanto.

Essas coisas não passam. Nunca. Não somem com o tempo. E eu tenho certeza absoluta que nunca vou esquecer. De tudo. E de nada.

Eu sei o que a moça do livro sentiu. Experimentar a felicidade e depois vê-la indo embora, sem ter o que fazer para segurá-la ao seu lado. Impotência. 

Mas a vida continua. E as pessoas se arrependem. E tentam mudar as coisas erradas que fizeram. E até mudam, mas um vidro quebrado nunca mais volta a ser um vidro inteiro. Você pode colar todas as pecinhas no lugar certo, e fazer um trabalho lindo. Mas ele nunca vai deixar de ser um vidro quebrado.

No caso do livro, parece-me que o vidro da moça ficou quase como novo. O meu não. Eu continuo vendo, todo santo dia, as rachaduras que foram deixadas em mim. Faço um esforço descomunal para não pensar mais. Mas penso. E isso cansa.

Qualificação: 1 estrela
Nível de recomendação: não cheira nem fede.


02 fevereiro, 2014

Feita de fumaça e osso

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Parecia um livro chato no começo. Eu tinha lido Puros há pouco tempo, que também falava de algumas coisas que não existem, e fiquei meio entendiada no início. Tem monstros nesse. Não são monstros ruins, como os dos filmes de terror. Mas tem. E eu imagino que muitas coisas que não existem hoje podem, um dia, existir, mas definitivamente não acredito que um dia teremos monstros.

Depois de um tempo, e de alguma insistência da minha parte, o livro revelou-se bom. E mais ou menos perto da metade se tornou um daqueles livros que a gente não quer nunca, nem por um segundo parar de ler.

Sinceramente, não sei resumir a história. Não sei dizer do que trata. Foi, pra mim, um livro meio forte. Mas talvez só para mim. 

Retrata a noção de pontos de vista: o que para a grande maioria das pessoas é ruim, para alguém em específico pode não ser. Pontos de vista. sempre relativos.

Conheço gente que fez e faz muito mal à muitas pessoas. Gente ruim, gente promíscua, gente difícil, gente de má índole, gente com gosto esquisito, gente que não se importa. E conheço gente assim que, para mim, não é nada disso. E eu gosto dessa gente. Gosto demais dessa gente. Uma gente, específica. Porque para mim é exatamente o oposto de tudo de ruim.

Uma gente, que aos olhos de muitas outras gentes, não valia uma moeda sequer. Uma história que soará absurda se contada. Uma história passada que mudou a minha vida. Não sei, ainda, se para melhor ou para pior. Provavelmente, nunca vou saber. Mas mudou. E muda todo dia.

Fala de amor. E eu tenho essa mania idiota de achar que o amor pode mudar as pessoas. Idiota, mas minha mania. E não sei como me livrar dela.

É. O amor. Eu gosto das histórias de amor. E eu sei que pareço durona, muito bem resolvida, confiante, tranquila, segura e bla bla bla. Mas boa parte disso é só uma máscara que esconde a menina romântica e sonhadora (e, porque não dizer, meio burra...) que existe em mim. Isso também me fez gostar desse livro. A menina que se vê diante de um cara por quem ela sabe que vai se apaixonar. Por quem ela sabe que não deve, por nada no mundo, se apaixonar. E, ainda assim, se permite. Não consegue evitar.

De um lado a esperança, de outro lado o medo de sentir esperança. E os dois lados juntos.

Perdi a conta de quantas vezes eu fui essa menina. E provavelmente ainda serei algumas vezes.

Fala de busca. Procura. Incessante. Aquela coisa de "eu sei que deveria estar em outro lugar, fazendo alguma outra coisa, mas ainda não sei o que é". A coisa de "eu ainda não encontrei o que estou procurando". E entregar-se a isto, mesmo sem saber. E buscar. E ir. E ver, tantas vezes, o mundo tentando te mostrar que aquele caminho é errado, mas ter a certeza dentro de você que o caminho é certo. e continuar seguindo por ele. Contra tudo. Contra todos. A história da minha vida...

Fala de traição. E de decepção. Aquela que você não espera. A pessoa por quem você colocaria não apenas a mão no fogo, mas seu corpo inteiro. E depois descobre que foi exatamente essa pessoa que ateou o fogo. A dor da decepção, e a marca eterna que ela deixa.  E você pode até perdoar, mas nunca deixará de sentir a dor que a decepção causou.

E fala de felicidade. A felicidade verdadeira, mas que é vivida apenas por alguns instantes. Dias, meses, anos, tempo relativo, porque quando não é pra sempre, é sempre por instantes. O livro mostra isso, e eu vivi exatamente isso. É como experimentar a mais deliciosa das frutas, e minutos depois saber que aquela fruta não existe e nem nunca mais vai existir. E conviver com isso para sempre: nada, nem ninguém, nem lugar nenhum vai ser igual. Não há substituição. E a tristeza, bom...a tristeza não passa.

A grande maioria das coisas, na vida, passa. Mas algumas tristezas são eternas.

O livro é muito bem escrito, embora às vezes cansativo. E acaba com um  "continua...", o que indica que provavelmente vai ser uma trilogia. Acho que virou moda fazer trilogias atualmente.

Sinceramente, não sei se vou ler os demais. O final deste livro é como está sendo o meu final. E eu não estou pronta ainda para mudá-lo.

Qualificação: 4 estrelas
Nível de recomendação: se você começou a ler, não desista no começo (o que é extremamente provável). Vale a pena.


29 janeiro, 2014

Heberson, eu sinto muito

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Confesso que eu tinha sim a intenção de falar apenas sobre livros que eu já li por aqui. Não estamos falando de um livro, mas de um texto, escrito por Nathalia Ziemkiewicz, autora do blog Na Pimentaria.

O post está disponível neste link.

Eu cheguei hoje do trabalho, cansada como sempre, com minha filha também cansada de um dia inteiro na escola, e estava na sacada tomando um ar quando, por acaso, me deparei com este texto, compartilhado por alguém no facebook. Comecei a ler, e tive que me esconder para chorar sem minha pequena ver e me encher de perguntas. Sou do tipo de mãe que tenta não passar nenhum tipo de tristeza para a filha, mesmo sendo super consciente de que o mundo é triste. Simplesmente acho que ela não precisa saber disso ainda... Eu sei que ela vai aprender isso, de uma forma ou de outra, então, enquanto eu puder postergar isso, eu tento fazê-lo.

Eu já estava com a mente cheia de outros pensamentos que me fazem não enxergar o tal do "a vida é bela", mas esse texto colaborou bastante para o meu sentimento de que a humanidade não tem mais jeito. Estamos apenas por aqui esperando o mundo acabar.

A história em si é absurdamente comovente. Minha vontade é sair daqui agora e ir lá dar um abraço no Heberson e dizer que vai ficar tudo bem. Acho que não ia transmitir muita convicção de que isto é verdade, mas queria apenas dizer. Ou deixar o abraço dizer.

Por outro lado, a forma como a autora colocou o coração no texto me encantou absurdamente. Eu sempre tento colocar nos meus escritos tudo aquilo que eu sinto, e, às vezes, eu sinto tanta coisa que é bem difícil transformar tudo em palavras. Ela conseguiu. E eu a invejei com a inveja boa.

A cada frase, eu me afundava mais. Esperava o ponto final para poder respirar, e nas vírgulas eu deixava escapar o soluço. Só nas vírgulas, para que o som não atrapalhasse a leitura.

Não conhecia a autora e não li (ainda) os outros posts do blog dela, mas virei fã. Quero ser como ela quando eu crescer. E me sinto na obrigação de pedir licença à ela, bem humildemente também, para me aproveitar do que ela escreveu e também dizer que eu sinto muito.

Tomar as palavras delas para mim, sem nenhuma pretensão de tirar os créditos.

Ao mesmo tempo que eu sinto medo do mundo em que vivemos, do país em que vivemos, das autoridades que nos defendem e das leis que nos protegem, eu me sinto privilegia por viver na mesma época que uma pessoa que escreve o que esta moça escreveu. Dá vontade de sair lutando, como se a vida fosse uma guerra. 

E é, não é? 

Uma guerra insensível, de pessoas escondidas atrás de seus computadores (sim, eu me inclui nestas pessoas), que se sentem resignadas e tristes pelos Hebersons que existem por aí, mas que cinco minutos depois precisam continuar a caminhar, ou subir no ônibus que chegou, ou tomar banho porque ainda tem serviço de casa para fazer depois das 8 horas diárias de trabalho.

Neste momento, eu preciso apenas abraçar a minha filha. E entrar no mundo dela, torcendo para que ele demore o máximo de tempo possível para se revelar inexistente.

Qualificação: 5 estrelas
Nível de recomendação: se este texto, de apenas alguns parágrafos, fosse, só ele, um livro, seria um best seller.



13 janeiro, 2014

Tem dias

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tem dias que são mais difíceis que os outros.
e apesar de tudo que vivemos de difícil, as outras coisas também ficam difíceis
e eu só queria que você me dissesse que vai ficar tudo bem.
não o a gente.
nao qualquer pessoa.
nao qualquer palavra.
nao qualquer.
não.
você. 
está tudo bem.
tudo.
mesmo que o tudo seja apenas uma pequena parte do tudo.
mesmo que o resto continue sendo tudo.
e que uma parte seja mais importante.
e que esta parte fique bem.
e que esta parte fique.

tem dias que as noites são sem fim, e que o escuro não parece tão amigável.
dias que as palavras jogadas ao ar nos atingem como míssil certeiro.
teleguiado.
programado.
indecifrado.
e indecifrável.
e acerta.
e nao mata.
mas corrompe mais um pouco do dia que o tudo era pouco, e o pouco não ficou bem.
e não fica.
nunca fica.
nunca.
tudo.
bem.

tem dias que eu não consigo sair da cama mesmo quando não estou na cama.
e não tem mais de onde ou por onde ou por quem.
e não tem.
dias que o pequeno vira tudo, e o tudo é muito grande.
e cansa.
canso.
não ficou tudo bem. e ainda que parte nunca fique tudo bem, outra parte também não ficou bem.
e as duas partes não formam o tudo.
e o tudo não está bem.
tudo.
você.
nada ficou bem.
nem qualquer.
nem algum.
nem nenhum.
nem.
ninguém.

tem dias que eu só queria que você me dissesse.
que pudesse.
que soubesse.
que viesse.
e depois partisse.
mas me olhasse.
e me fizesse ver, sem nem mesmo dizer.
que tem dias que vai ficar tudo bem.

11 janeiro, 2014

Puros

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Esse foi um dos 5 livros que eu comprei no ano passado na tal da Black Friday. Costumo comprar livros pelo título ou pela capa (de vez em quando nem a sinopse eu leio), mas esse eu confesso que comprei pelo preço.

Impossível não comprar um livro que custa menos que dez reais...

Não gostei, no começo. Pareceu meio chato, e eu pensei que ia ser um daqueles livros que demoram anos pra serem terminados. Eu tenho um problema sério: se começar a ler um livro, tenho que terminar. Por pior que seja. Não consigo começar um novo enquanto não termino o velho. E às vezes eu realmente sofro com isso.

Mas desta vez eu, felizmente, me surpreendi. 

A história se passa num futuro qualquer. Houve, na Terra, uma série de explosões, que fez com que as poucas pessoas que sobreviveram ficassem fundidas às coisas que às coisas a que estavam próximas quando o fim do mundo chegou. Mas o mundo não acabou, e essas pessoas foram obrigadas a arrumar um jeito de sobreviver a um ambiente destruído e cheio de cinzas. São chamados miseráveis, e é assim que vive uma das personagens principais, uma menininha que tem o braço fundido à cabeça de uma boneca.

Algumas pessoas, entretanto, salvaram-se, porque estavam protegidas, em um lugar chamado Domo, quando tudo explodiu. São chamados Puros, e um deles, filho do suposto "presidente" do tal Domo, é outro dos personagens principais.

Como era de se esperar, quem estava fora queria entrar, e quem estava dentro queria sair. É o enredo básico, quem vem rodeado com o medo que todas as crianças tem porque ao atingir 16 anos são levadas à força para uma espécie de treinamento militar, com lições dadas por um garoto que teoricamente está morto e portanto não precisa fugir de tal treinamento, e com as surpresas e coincidências entre a menina miserável e o menino puro.  No geral, o livro é bacana. Uma leitura agradável. Mas não é aquelas coisas. 

Gosto da forma como a autora retrata as memórias que os personagens têm de antes de tudo ser como é. Ela fala de um Antes, como falamos em Idade Média, por exemplo. As crianças brincam de "eu me lembro" e as experiências de que elas realmente se lembrar são valiosas. Alguns chegam a fingir que se lembram de coisas que ouviram outros dizendo que lembravam.

Descobri, só depois de terminar de ler, que se trata de uma trilogia. O segundo volume se chama Fuse e o terceiro Burn. Nenhum dos dois foi lançado ainda. Sinceramente, não sei ao certo o que há para continuar, e não me animei em continuar lendo. Até porque, as últimas trilogias que li foram todas bem decepcionantes. 

Talvez eu opte por ficar com o conceito de "livro bacana" só do primeiro volume. Mas não garanto nada. Eu tenho um problema incontrolável: se vou numa livraria, compro um livro. E outro problema grande: sempre vou numa livraria.

A fila de livros para ler aqui está grande, mas, nunca se sabe o dia de amanhã...


Qualificação: 2.5 estrelas
Nível de recomendação: é um bom passatempo. Mas palavras cruzadas também são.


 

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