29 janeiro, 2014

Heberson, eu sinto muito

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Confesso que eu tinha sim a intenção de falar apenas sobre livros que eu já li por aqui. Não estamos falando de um livro, mas de um texto, escrito por Nathalia Ziemkiewicz, autora do blog Na Pimentaria.

O post está disponível neste link.

Eu cheguei hoje do trabalho, cansada como sempre, com minha filha também cansada de um dia inteiro na escola, e estava na sacada tomando um ar quando, por acaso, me deparei com este texto, compartilhado por alguém no facebook. Comecei a ler, e tive que me esconder para chorar sem minha pequena ver e me encher de perguntas. Sou do tipo de mãe que tenta não passar nenhum tipo de tristeza para a filha, mesmo sendo super consciente de que o mundo é triste. Simplesmente acho que ela não precisa saber disso ainda... Eu sei que ela vai aprender isso, de uma forma ou de outra, então, enquanto eu puder postergar isso, eu tento fazê-lo.

Eu já estava com a mente cheia de outros pensamentos que me fazem não enxergar o tal do "a vida é bela", mas esse texto colaborou bastante para o meu sentimento de que a humanidade não tem mais jeito. Estamos apenas por aqui esperando o mundo acabar.

A história em si é absurdamente comovente. Minha vontade é sair daqui agora e ir lá dar um abraço no Heberson e dizer que vai ficar tudo bem. Acho que não ia transmitir muita convicção de que isto é verdade, mas queria apenas dizer. Ou deixar o abraço dizer.

Por outro lado, a forma como a autora colocou o coração no texto me encantou absurdamente. Eu sempre tento colocar nos meus escritos tudo aquilo que eu sinto, e, às vezes, eu sinto tanta coisa que é bem difícil transformar tudo em palavras. Ela conseguiu. E eu a invejei com a inveja boa.

A cada frase, eu me afundava mais. Esperava o ponto final para poder respirar, e nas vírgulas eu deixava escapar o soluço. Só nas vírgulas, para que o som não atrapalhasse a leitura.

Não conhecia a autora e não li (ainda) os outros posts do blog dela, mas virei fã. Quero ser como ela quando eu crescer. E me sinto na obrigação de pedir licença à ela, bem humildemente também, para me aproveitar do que ela escreveu e também dizer que eu sinto muito.

Tomar as palavras delas para mim, sem nenhuma pretensão de tirar os créditos.

Ao mesmo tempo que eu sinto medo do mundo em que vivemos, do país em que vivemos, das autoridades que nos defendem e das leis que nos protegem, eu me sinto privilegia por viver na mesma época que uma pessoa que escreve o que esta moça escreveu. Dá vontade de sair lutando, como se a vida fosse uma guerra. 

E é, não é? 

Uma guerra insensível, de pessoas escondidas atrás de seus computadores (sim, eu me inclui nestas pessoas), que se sentem resignadas e tristes pelos Hebersons que existem por aí, mas que cinco minutos depois precisam continuar a caminhar, ou subir no ônibus que chegou, ou tomar banho porque ainda tem serviço de casa para fazer depois das 8 horas diárias de trabalho.

Neste momento, eu preciso apenas abraçar a minha filha. E entrar no mundo dela, torcendo para que ele demore o máximo de tempo possível para se revelar inexistente.

Qualificação: 5 estrelas
Nível de recomendação: se este texto, de apenas alguns parágrafos, fosse, só ele, um livro, seria um best seller.



13 janeiro, 2014

Tem dias

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tem dias que são mais difíceis que os outros.
e apesar de tudo que vivemos de difícil, as outras coisas também ficam difíceis
e eu só queria que você me dissesse que vai ficar tudo bem.
não o a gente.
nao qualquer pessoa.
nao qualquer palavra.
nao qualquer.
não.
você. 
está tudo bem.
tudo.
mesmo que o tudo seja apenas uma pequena parte do tudo.
mesmo que o resto continue sendo tudo.
e que uma parte seja mais importante.
e que esta parte fique bem.
e que esta parte fique.

tem dias que as noites são sem fim, e que o escuro não parece tão amigável.
dias que as palavras jogadas ao ar nos atingem como míssil certeiro.
teleguiado.
programado.
indecifrado.
e indecifrável.
e acerta.
e nao mata.
mas corrompe mais um pouco do dia que o tudo era pouco, e o pouco não ficou bem.
e não fica.
nunca fica.
nunca.
tudo.
bem.

tem dias que eu não consigo sair da cama mesmo quando não estou na cama.
e não tem mais de onde ou por onde ou por quem.
e não tem.
dias que o pequeno vira tudo, e o tudo é muito grande.
e cansa.
canso.
não ficou tudo bem. e ainda que parte nunca fique tudo bem, outra parte também não ficou bem.
e as duas partes não formam o tudo.
e o tudo não está bem.
tudo.
você.
nada ficou bem.
nem qualquer.
nem algum.
nem nenhum.
nem.
ninguém.

tem dias que eu só queria que você me dissesse.
que pudesse.
que soubesse.
que viesse.
e depois partisse.
mas me olhasse.
e me fizesse ver, sem nem mesmo dizer.
que tem dias que vai ficar tudo bem.

11 janeiro, 2014

Puros

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Esse foi um dos 5 livros que eu comprei no ano passado na tal da Black Friday. Costumo comprar livros pelo título ou pela capa (de vez em quando nem a sinopse eu leio), mas esse eu confesso que comprei pelo preço.

Impossível não comprar um livro que custa menos que dez reais...

Não gostei, no começo. Pareceu meio chato, e eu pensei que ia ser um daqueles livros que demoram anos pra serem terminados. Eu tenho um problema sério: se começar a ler um livro, tenho que terminar. Por pior que seja. Não consigo começar um novo enquanto não termino o velho. E às vezes eu realmente sofro com isso.

Mas desta vez eu, felizmente, me surpreendi. 

A história se passa num futuro qualquer. Houve, na Terra, uma série de explosões, que fez com que as poucas pessoas que sobreviveram ficassem fundidas às coisas que às coisas a que estavam próximas quando o fim do mundo chegou. Mas o mundo não acabou, e essas pessoas foram obrigadas a arrumar um jeito de sobreviver a um ambiente destruído e cheio de cinzas. São chamados miseráveis, e é assim que vive uma das personagens principais, uma menininha que tem o braço fundido à cabeça de uma boneca.

Algumas pessoas, entretanto, salvaram-se, porque estavam protegidas, em um lugar chamado Domo, quando tudo explodiu. São chamados Puros, e um deles, filho do suposto "presidente" do tal Domo, é outro dos personagens principais.

Como era de se esperar, quem estava fora queria entrar, e quem estava dentro queria sair. É o enredo básico, quem vem rodeado com o medo que todas as crianças tem porque ao atingir 16 anos são levadas à força para uma espécie de treinamento militar, com lições dadas por um garoto que teoricamente está morto e portanto não precisa fugir de tal treinamento, e com as surpresas e coincidências entre a menina miserável e o menino puro.  No geral, o livro é bacana. Uma leitura agradável. Mas não é aquelas coisas. 

Gosto da forma como a autora retrata as memórias que os personagens têm de antes de tudo ser como é. Ela fala de um Antes, como falamos em Idade Média, por exemplo. As crianças brincam de "eu me lembro" e as experiências de que elas realmente se lembrar são valiosas. Alguns chegam a fingir que se lembram de coisas que ouviram outros dizendo que lembravam.

Descobri, só depois de terminar de ler, que se trata de uma trilogia. O segundo volume se chama Fuse e o terceiro Burn. Nenhum dos dois foi lançado ainda. Sinceramente, não sei ao certo o que há para continuar, e não me animei em continuar lendo. Até porque, as últimas trilogias que li foram todas bem decepcionantes. 

Talvez eu opte por ficar com o conceito de "livro bacana" só do primeiro volume. Mas não garanto nada. Eu tenho um problema incontrolável: se vou numa livraria, compro um livro. E outro problema grande: sempre vou numa livraria.

A fila de livros para ler aqui está grande, mas, nunca se sabe o dia de amanhã...


Qualificação: 2.5 estrelas
Nível de recomendação: é um bom passatempo. Mas palavras cruzadas também são.


 

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