21 março, 2014

Meu nome é Luciana, e eu estou limpa há 5 dias

Cinco dias. Era um período muito bom e eu precisava mantê-lo. Aumentá-lo. Precisava.

Na última livraria que eu fui, acabei comprando dois livros. Não resisti. Eu sei que eu não precisava deles, porque tenho exatamente 21 livros novinhos em casa para ler, sem contar os dois que estou lendo. Mas foi mais forte do que eu.

Nos dias seguintes, não pensei no assunto.

Hoje, contudo, eu precisava comprar presentes para as crianças que fazem aniversário amanhã. E tem presentes para crianças na livraria aqui perto. Resolvi testar minha força.

Caminhei tranquilamente até lá, mas quando coloquei o primeiro pé no interior do estabelecimento, eu senti aquele cheiro. O cheiro de livro novo. E todas aquelas capas coloridas me olharam nos olhos. Senti as pernas bambearem, e me deixei abraçar pelo cheiro... Tive medo. Eu confesso, sou fraca mesmo. 

Diminuí a velocidade dos passo, quase cedendo já de cara. 

Mas, por sorte, uma pessoa distraída acabou trombando em mim. Eu acordei, esfreguei os olhos, fixei o olhar na escada e andei. Fingi que não ouvi a voz dos lançamentos, dos mais vendidos, de todos eles. No fundo, eu estava me corroendo por dentro. As mãos suavam e a respiração estava forte.

Eu não preciso de mais livros. Eu não preciso de mais livros.

Consegui alcançar a escada. Um, dois, dez, vinte degraus. Basta não olhar para os lados. Apenas continue caminhando.

A sessão infantil era minha salvação. Ali eu poderia respirar. Mais alguns passos e ficaria tudo bem.

Ficou.

Encontrei os dois livrinhos ideias para cada um dos menininhos. Mas ainda precisava voltar. Eu já tinha passado por metade do processo, e estava indo bem. Embora entorpecida e com o estômago embrulhado, eu estava indo bem. Orgulho de mim.

É só ir até o caixa. Não olhe para os lados. 

Vinte, dezenove, dezoito. Degraus em contagem regressiva. Eu me aproximava do território mais perigoso. É na parte de baixo que eles colocam os livros mais interessantes bem na nossa cara, como iscas. E eu sou o peixe. O peixe idiota que sempre morde o anzol. Acho que sou ferro, e eles são imã. É difícil. Verdadeiramente difícil.

Senhora? Débito ou crédito?

Acho que apaguei por alguns instantes. E fiquei desesperada! O que eu estava pagando? Será que o meu vício tinha, então, atingido o grau de me tirar do estado consciente? Foram alguns segundos, mas para mim parecia uma vida. Se eu olhasse para as mãos da operadora de caixa e visse que ela estava colocando na sacola não apenas os dois livros infantis que eu comprei, seria a minha derrota total. Definitivamente, eu iria sair dali e procurar ajuda profissional.

Crédito.

Respondi trêmula. Ainda que eu não olhasse para as mãos dela, eu teria que ver o valor que estava pagando, e farias as deduções. Era o fim. Quis morrer.

Mas, novamente, ficou tudo certo. Eu sorri para a moça e acho que ela não entendeu nada. Ou talvez tenha pensado que eu estava flertando com ela, ou tão carente que queria fazer amizade. Mas não era nada disso. E no fim das contas, ela me odiou por não ser nada disso. E me disse que para embrulhar para presente eu teria que atravessar a livraria toda, porque o setor de pacotes ficava na saída do outro lado.

Quis matá-la.

Peguei a nota fiscal, e olhei para o longo caminho que precisava percorrer. 

Virei as costas e fui embora. Eu posso embrulhar os livros em casa. Não é justo comigo. Tinha ido bem demais para estragar tudo por conta de um papel de presente.

Na rua, respirei, mas, em silêncio, deixei escorrer uma lagriminha.

Eu podia estar agora com um livro novo. Ainda que ele fosse o vigésimo segundo da fila dos que eu ainda tenho para ler.

1 comentários:

Miguel Carneiro disse...

Acabei de descobrir mais uma qualidade sua....vc é muito divertida!!!
E eu gosto de pessoas divertidas...
Interessante como realmente fala de você nos textos...

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